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Evento sobre diversidade discute sobre pessoas com deficiência nas organizações

19/05/2018

Nos dias 16 a 19 de maio de 2018, aconteceu em na UFG, em Goiânia, o XII Congresso Abrapcorp, Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, que teve como tema Comunicação – Diversidade – Organizações.

Fui convidada para participar, junto com a Profª Dra. Raquel Cabral (UNESP) da mesa Diversidade: pessoas com deficiência na comunicação e interculturalidade. Nesta oportunidade pude compartilhar algumas conclusões e percepções, frutos de quase 20 anos estudando o tema. Nos dias que antecederam o evento, refleti muito sobre o que falar em apenas 20 minutos. São tantas experiências, leituras, reflexões, que seria impossível abordar tudo. Foi então que decidi deixar provocações, de modo a suscitar nos participantes do congresso a vontade de continuar a pesquisar.

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Neste oportunidade destaquei que o fenômeno do aumento da presença de pessoas com deficiência nas organizações nos tempos atuais, é muito mais resultado do compromisso assumido pelos 88 países signatários da Declaração de Salamanca, que aconteceu em 1994, do que propriamente da Lei de Cotas aprovada em 1991.

Por que cheguei a essa conclusão? A lei de cotas já completou 27 anos, e menos de 1% da população de pessoas com deficiência estão no mercado de trabalho, segundo dados das Rais de 2015. E dentre as desculpas fornecidas pelas empresas por não cumprirem as cotas, é o custo das adaptações e a falta de qualificação das pessoas com deficiência. Porém, o Inep,  Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, revelou que no período de 2004 a 2014, o número de alunos com deficiência matriculados no ensino superior aumentou 518,66%, com 33.377 matrículas. Embora o aumento tenha sido significativo, representa apenas 0,42% do total de alunos matriculados no ensino superior.

Por que esse aumento significativo? Lembram que eu mencionei a Declaração de Salamanca? Pois é, esse documento assinado por membros da ONU, tratou sobre políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, os países signatários desse documento assumiram compromissos de implementar essas políticas. Se fizermos as contas, as crianças que foram beneficiadas por essas políticas, que mesmo com muitas dificuldades conseguiram ser implementadas em alguns lugares, são os jovens adultos, que hoje que estão batendo as portas das instituições de ensino superior ou cursos profissionalizantes. E muitos já estão se candidatando às vagas no mercado de trabalho. Essa é a nova realidade das organizações, e a contratação de pessoas com deficiência para cumprir a cota é a parte mais fácil, pois quem irá lidar com essa nova realidade são os principais atores desse cenário: o contratados, os demais colaboradores e os gestores.

A verdadeira inclusão acontece na convivência do cotidiano organizacional, por meio das experiências compartilhadas que promoverão um ambiente rico de aprendizado para todos, de modo a contribuir para a desconstrução de mitos e pré-conceitos. Adaptação arquitetônica, tecnologia assistiva e outros recursos de acessibilidade são ações instrumentais, pontuais, que devem ser acompanhadas por um movimento de mudança de cultura. Sair da cultura médica da deficiência, que enxerga somente as limitações, para uma cultura social, que contempla as funcionalidades e potencialidades da pessoa com deficiência. E os profissionais de comunicação corporativa e de relações públicas têm papel fundamental para ajudar as organizações neste cenário.

E por isso, a inclusão desta discussão em um evento que reúne pesquisadores de comunicação corporativa e relações públicas é muito pertinente, pois estão sendo implementadas e regulamentadas muitas das recomendações da Lei Brasileira da Inclusão, lei nº 13.146 aprovada em 2015, que no capítulo IV que trata da educação contempla uma artigo que determina a inclusão da temática nas grades curriculares dos cursos de ensino superior de todas as áreas.

Por falta de literatura da área que trate desse tema em áreas específicas, muitos estão aprendendo no dia a dia. Experimentando, conversando, trocando ideias e experiências. Outros estão aprendendo e registrando essas experiências, para um dia fomentar um arcabouço teórico. Eu mesma, tenho pesquisado e aprendido muito à frente da coordenação de um Núcleo de Acessibilidade de uma universidade. Conversar com os alunos, conhecer suas necessidades, pensar com coordenadores e professores como mudar uma metodologia, mobilizar diversos setores da instituição para providenciar os recursos necessários, estão entre algumas das ações que realizamos no dia a dia. A interlocução com os diversos setores da instituição tem sido de fundamental importância.

Uma história milenar de exclusão não se muda da noite para o dia. É preciso humildade para aprender. Perseverança diante das dificuldades. Persistência diante das resistências culturais. É precisos pesquisar, compartilhar, espero sinceramente que cada um que participou deste evento sobre diversidade, seja uma semente na pesquisa na área da comunicação.

 

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